Teses do Campus de Angra do Heroísmo - Universidade dos Açores

Este blog pretende resumir as teses de Mestrado e Doutoramento realizadas no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a que é possível ter acesso e concluídas a partir de Novembro de 2005.

Monday, February 12, 2007

Alterações Climáticas e seus Impactos nos Recursos Hídricos Subterrâneos em Ilhas de Pequena Dimensão (Caso de Estudo: Açores-Ilha Terceira)

Realizaram-se no dia 9 de Fevereiro, no Complexo Pedagógico do campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores (Pico da Urze), as Provas de Doutoramento no ramo de Ciências Agrárias, especialidade de Ciências do Ambiente, requeridas pela Mestre Maria Emília de Jesus Silva Novo.
As provas foram avaliadas por um júri presidido pelo Vice-Reitor, Prof. Doutor Jorge Manuel Rosa de Medeiros (por delegação do Reitor), sendo vogais o Doutor João Paulo Cárcomo Lobo Ferreira, investigador-coordenador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil; o Doutor José Gabriel Álamo de Meneses, professor associado da Universidade dos Açores; o Doutor José Manuel Martins de Azevedo, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; a Doutora Teresa Barbosa Eira Leitão, investigadora principal do Laboratório Nacional de Engenharia Civil; o Doutor Eduardo Manuel Vieira Brito de Azevedo, professor auxiliar da Universidade dos Açores; o Doutor Francisco Cota Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores; e o Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores.
As provas constaram da discussão pública, com crítica e defesa, de uma dissertação intitulada Alterações Climáticas e Seus Impactos nos recursos Hídricos Subterrâneos em Ilhas de Pequena Dimensão (Caso de Estudo: Açores – ilha Terceira).
Esta tese foi orientada pelos Professores Eduardo Brito de Azevedo e Francisco Cota Rodrigues da Universidade dos Açores e pelo Investigador Principal do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o Professor João Paulo Lobo Ferreira.
As alterações climáticas, motivadas por origens naturais e/ou antrópica, têm impactos nas várias componentes do ciclo da água. As regiões insulares são, pelas suas características de litologia, estrutura geotectónica, dimensões, topografia, condicionantes geográficas e de natureza hidrogeológica, muito susceptíveis aos impactos das alterações climáticas, que se podem reflectir segundo duas vertentes: a) a alteração do nível médio das águas do mar e b) a alteração dos parâmetros climáticos (precipitação e temperatura). Os impactos das alterações climáticas ocorrem nos recursos hídricos modificando a sua qualidade (por exemplo, pela intrusão salina) e a sua quantidade (por exemplo pela redução da precipitação total e aumento da temperatura média, causando um decréscimo nos volumes de recarga).



O impacto das alterações climáticas sobre os recursos hídricos tem sido estudado sobretudo para a parte superficial do ciclo da água, havendo no geral grande desconhecimento sobre os recursos hídricos subterrâneos, que são vitais para as zonas insulares.

Neste estudo efectuou-se uma análise dos possíveis impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos subterrâneos dos Açores, especialmente no vector quantidade, analisando-os quer na perspectiva da modificação local do nível médio das águas do mar, como na da modificação do clima que se admite que venha a ocorrer nesta região.
Com base nos resultados obtidos, relativamente à previsão destes impactos e nas respostas admissíveis dos sistemas aquíferos a estas modificações, procurou-se desenvolver uma metodologia de determinação da vulnerabilidade dos recursos hídricos subterrâneos das regiões insulares às alterações climáticas, extensível às zonas costeiras.

Thursday, February 01, 2007

Ecologia das florestas de Juniperus dos Açores

Realizaram-se no dia 26 de Janeiro, no Complexo Pedagógico do campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores (Pico da Urze), as Provas de Doutoramento no ramo de Biologia, especialidade de Ecologia Vegetal, requeridas pelo Mestre Rui Miguel Pires Bento da Silva Elias.
As provas foram avaliadas por um júri presidido pelo Vice-Reitor, Prof. Doutor José Luís Brandão da Luz (por delegação do Reitor), sendo vogais a Doutora Helena Maria de Oliveira Freitas, professora catedrática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; o Doutor José Maria Fernández-Placios, professor titular da Universidade de La Laguna; o Doutor José António Fernández Prieto, professor titular da Universidade de Oviedo; o Doutor Eduardo Manuel Ferreira Dias, professor auxiliar da Universidade dos Açores; a Doutora Maria João Bornes Teixeira Pereira, professora auxiliar da Universidade dos Açores; e o Doutor Carlos Francisco Gonçalves Aguiar, professor-adjunto da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança.
As provas constaram da discussão pública, com crítica e defesa, de uma dissertação intitulada Ecologia das Florestas de Juniperus dos Açores.





O presente trabalho, orientado pelo Professor Doutor Eduardo Dias, pretendeu responder a várias questões relativas à ecologia das florestas de Juniperus dos Açores: Quais são as condições e recursos ambientais limitantes da distribuição e abundância de Juniperus brevifolia? Que adaptações morfológicas possui à variabilidade espacial e temporal das condições e recursos ambientais, na área de distribuição? Quais são as estratégias de regeneração das espécies arbóreas destas florestas? Qual é o papel dos distúrbios na regeneração das florestas de Juniperus-Laurus, das florestas de Juniperus-Ilex e dos bosques de Juniperus-Sphagnum? Como estão organizadas espacialmente as espécies arbóreas nas florestas de Juniperus? As respostas a estas questões visam clarificar duas dúvidas principais: (1) As florestas de Juniperus possuem elevada estabilidade, sendo a competição uma importante força estruturadora ou, pelo contrário, nestas comunidades os distúrbios desempenham um papel importante, diminuindo a força das interacções competitivas? (2) Qual a importância de J. brevifolia na vegetação natural dos Açores?


O J. brevifolia distribui-se actualmente por todas as ilhas dos Açores, com excepção da Graciosa. No entanto, em Santa Maria a espécie está à beira da extinção e nas restantes ilhas a sua distribuição actual é certamente muito menor do que a distribuição potencial, particularmente em São Miguel, no Faial e no Corvo. No Pico e São Jorge, em grande parte da área de ocorrência, as comunidades de J. brevifolia estão extremamente fragmentadas devido à implantação de pastagens. Nas ilhas Terceira e Flores encontram-se as últimas grandes áreas naturais ocupadas por comunidades dominadas por esta espécie, principalmente acima dos 500 m de altitude. J. brevifolia atinge a sua máxima expressão entre os 500 e 1000 m de altitude e a sua distribuição geográfica potencial é limitada apenas acima dos 1500 m, na ilha do Pico, provavelmente devido às baixas temperaturas associadas à queda de neve frequente no Inverno. Por outro lado, entre os 1100 e 1500 m e entre os 100 e 400 m de altitude as condições e recursos ambientais e as interferências competitivas, respectivamente, poderão estar na origem da limitação na abundância da espécie. A elevada variabilidade morfológica de J. brevifolia é indicadora do seu grau de adaptação às condições e recursos ambientais dos Açores. As populações costeiras exibem características xeromórficas, como resultado das elevadas temperaturas e reduzida precipitação das zonas próximas do mar. As populações de montanha apresentam indivíduos com adaptações à elevada exposição e precipitação, temperaturas baixas e deficiência de nutrientes. As características das populações de meia altitude são claramente mesofíticas e expressam condições ambientais mais propícias ao desenvolvimento e boa disponibilidade de recursos.
As florestas de Juniperus-Laurus possuem uma dinâmica de clareira associada à existência de distúrbios de pequena dimensão, que originam a formação de clareiras. Estas aberturas no copado constituem um importante factor de manutenção da diversidade arbórea. As cinco espécies arbóreas destas florestas possuem distintas estratégias de regeneração: Pioneira (Erica azorica); Pioneira persistente (J. brevifolia); Madura (Ilex azorica); Primária (Frangula azorica); Primária facultativa (Laurus azorica). As florestas de Juniperus-Ilex possuem uma dinâmica cíclica de clareira (dinâmica de mosaico ou ciclo florestal) com origem na senescência e morte de indivíduos da mesma cohort de J. brevifolia. A diversidade, estrutural e florística, observada nestas florestas corresponde a um mosaico composto por diferentes fases do ciclo florestal: Clareira; Construtiva; Madura; Degenerativa inicial; Degenerativa final. Nas populações de J. brevifolia a dinâmica de mosaico tem origem na senescência e morte das cohorts. Nas populações de I. azorica esta dinâmica parece ser imposta pela morte das cohorts de J. brevifolia. Nos bosques de Juniperus-Sphagnum ocorrem distúrbios de grande dimensão, sob a forma de deslizamentos de terra. Após a ocorrência de um deslizamento iniciam-se sucessões primárias, nos topos, e secundárias, nas vertentes e bases. As sucessões primárias são compostas por quatro fases: Pioneira; Inovação; Construtiva; Madura. Os dois processos successionais (primário e secundário), no que respeita à estrutura das populações de J. brevifolia, são semelhantes. No entanto, ao nível florístico existem algumas diferenças principalmente na fase pioneira das bases dos deslizamentos. A consequência mais imediata dos deslizamentos de terra é catastrófica, devido à eliminação de toda a biomassa vegetal. No entanto, estes distúrbios naturais possibilitam uma regeneração massiva de J. brevifolia e aumentam a diversidade florística, estrutural e da paisagem.
Com excepção de L. azorica, os juvenis das espécies arbóreas possuem uma distribuição maioritariamente agregada, como resultado da influência de vários factores, como a dependência de clareiras para a germinação e recrutamento de novos indivíduos, a heterogeneidade ambiental, o tipo de dispersão e chuva de sementes e a formação de bancos de imaturos. Pelo contrário, com excepção de E. azorica, os adultos das espécies arbóreas demonstram uma distribuição predominantemente aleatória. E. azorica é a única espécie cujos adultos não possuem qualquer associação positiva forte com os juvenis das outras espécies. Existe um padrão de aumento do número de fortes associações positivas com o aumento da escala analisada. A organização espacial das espécies é, em grande medida, independente do tipo de comunidade, no entanto, factores locais relacionados com distúrbios e heterogeneidade ambiental podem modificar os padrões espaciais observados.
O efeito da insularidade, as exigências ambientais das espécies e a competição têm todos um papel importante na forma como são estruturadas as florestas de Juniperus. No entanto, as comunidades de montanha estão sujeitas a vários tipos de distúrbio, bióticos e/ou abióticos, de pequena, média ou grande dimensão, que constituem fontes permanentes de instabilidade. De facto, todas as comunidades estudadas possuem, em diferentes graus, dinâmicas associadas a distúrbios. A principal consequência da acção dos distúrbios diz respeito à alteração dos parâmetros ambientais e diminuição da força das interacções competitivas, favorecendo a regeneração daquelas espécies arbóreas que necessitam da libertação de recursos providenciada pela abertura de clareiras (exs. J. brevifolia, E. azorica, L. azorica e F. azorica). Parece-nos claro que J. brevifolia é de facto uma espécie-chave das comunidades florestais de montanha dos Açores. O seu declínio teria consequências graves nos ecossistemas naturais, na qualidade e quantidade dos recursos hídricos, nos solos e na flora e fauna insulares. A conservação e ampliação das florestas naturais de Juniperus constituem certamente uma aposta, não apenas na melhoria da qualidade dos ecossistemas naturais, mas também da qualidade de vida de todos os que vivem e visitam os Açores.