Teses do Campus de Angra do Heroísmo - Universidade dos Açores

Este blog pretende resumir as teses de Mestrado e Doutoramento realizadas no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a que é possível ter acesso e concluídas a partir de Novembro de 2005.

Monday, July 09, 2007

Etnobotânica de São Jorge: Valores, Recursos e Sustentabilidade

Realizou-se no dia 7 de Julho de 2007, a defesa da tese de Mestrado em Educação Ambiental de Ana Maria Pires Estrela Vilela, com o título "Etnobotânica de São Jorge: Valores, Recursos e Sustentabilidade", orientada pela Professora Maria Angeles Mendiola Ubillos da Universidad Politécnica de Madrid e pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
O júri da tese foi constituído pela Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor), pelo Doutor António Xavier de Barros e Cunha Pereira Coutinho, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pela Doutora Maria João Bornes Teixeira Pereira, professora auxiliar da Universidade dos Açores, pelo Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores e pela Doutora Margarida da Silva Damião Serpa, professora auxiliar da Universidade dos Açores.
Com esta tese pretendeu-se recolher o conhecimento empírico da utilização de plantas na ilha de São Jorge, junto das pessoas mais idosas, com vista à sua valorização na área da Educação Ambiental; como recurso educativo e contributo para a sustentabilidade sócio-económica da ilha.
Identificaram-se usos e costumes, conhecimentos e crenças específicas dos jorgenses acerca da flora da sua ilha. Pretendeu-se sempre perspectivar a forma como a informação recolhida poderia promover a conservação de espécies vegetais, especialmente as referentes a plantas raras ou em vias de extinção.
De entre as espécies vegetais, expontâneas ou cultivadas, merecem especial referência a cultura do Café, que nos Açores só é realizada em alguns locais dessa ilha, e o cedro do mato, que permitiu o aparecimento de uma "escola de escultores de arte sacra", única no mundo. A romania, espécie endémica dos Açores, também tem nessa ilha aplicações específicas, como a produção de doce e o fabrico de água-ardente, mas actualmente em desuso.

Também merece especial referência o desaparecimento em São Jorge do linho e da planta tintureira Isatis tinctoria, que durante muito tempo constituíram recursos económicos importantes da ilha.Identificaram-se plantas com interesse alimentar e farmacológico como o agrião, o perrexil, a bananeira, a batata-doce, o castanheiro, o feto, a videira, o jarro, o milho, a silva, o café, o araçazeiro amarelo, o araçazeiro roxo, a roca de velha, a losna, a faia da terra, a salva, o linho, o inhame, o sabugueiro e a uva-da-serra. Foram também identificadas plantasque são utilizadas como matéria prima, para o fabrico de utensílios específicos, no artesanato, e na tinturaria, como a corriola, a faia da índia, o pau branco, o bracel, o dragoeiro, o inhame, o pastel ou a urzela.Por fim foram registadas crenças ligadas a algumas plantas como o sabugueiro, a faia da terra, a salva e a losna.
Pela informação recolhida fica claro que o não uso de uma planta, especialmente agrícola, pode levar à sua extinção, como foi o caso do linho e do pastel na ilha de São Jorge. Outrora, o líquene Rocella tinctoria era colhido na ilha e tinha interesse comercial. A utilização desta espécie nativa desapareceu, e apesar de ser abundante, ninguém na ilha a sabe identificar. Se em São Jorge existem plantas com interesse agrícola ou farmacológico que dificilmente entrarão em extinção, outras poderão vir a desaparecer se não forem valorizadas económicamente.
É pertinente valorizar algumas plantas de São Jorge numa perspectiva etnográfica, gastronómica e turística. Parecem ser especialmente valorizaveis nessa perspectiva a bananeira (cuja seiva tem algumas propriedades medicinais), o café (pela curiosidade e raridade que representa o seu cultivo em climas subtropicais), o inhame (com interesse farmacológico e alimentar), a videira (pelo gosto característico dos seus frutos), a uva-da-serra (pela qualidade e raridade dos seus frutos e produtos) e o linho e pastel (por estarem associados a uma actividade económica e social da ilha nos séculos passados).