Teses do Campus de Angra do Heroísmo - Universidade dos Açores

Este blog pretende resumir as teses de Mestrado e Doutoramento realizadas no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a que é possível ter acesso e concluídas a partir de Novembro de 2005.

Tuesday, December 18, 2007

Percepções de risco dos cidadãos sobre o impacto das pragas na ilha Terceira

Foi apresentada e defendida no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores a tese de Mestrado em Educação Ambiental intitulada “Percepções de risco dos cidadãos sobre o impacto das pragas na ilha Terceira” de Elsa Maria Costa Silva Carvalho Costa, orientada pelo Professor Paulo Borges e pela Professora Ana Margarida Moura Arroz, ambos da Universidade dos Açores.
O Júri foi constituído pelo Doutor Paulo Alexandre Vieira Borges, professor auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor) e pelas vogais Doutora Maria Luísa Soares Almeida Pedroso Lima, professora associada com agregação do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores, Doutora Ana Maria Martins Ávila Simões, professora auxiliar da Universidade dos Açores e pela Doutora Ana Margarida Moura de Oliveira Arroz, professora auxiliar da Universidade dos Açores. A actividade humana no planeta tem provocado graves desequilíbrios nos ecossistemas. Nalguns casos comprometeu a estabilidade ecológica de tal forma que os problemas se tornaram irreversíveis. Nas últimas décadas os impactos provocados pelas actividades humanas assumiram contornos alarmantes, pois sendo o homem uma espécie cosmopolita levou consigo espécies mais longe do que a sua própria capacidade de dispersão natural lhes permitia, alterando dessa forma a distribuição global das espécies. A entrada de um só organismo invasor numa determinada região pode provocar consequências devastadoras na economia e património natural de um país. Várias têm sido as descrições ao longo da história da humanidade acerca do seu carácter destruidor, demonstrando assim a seriedade desse fenómeno.
Tratando-se de um problema à escala mundial, a ilha Terceira não foge à regra, tendo-se confrontado diversas vezes com os infortúnios provocados pela disseminação de várias espécies exóticas invasoras. Tal facto tem custado ao poder local e aos cidadãos terceirenses valores avultados. Neste trabalho pretendeu-se determinar a percepção de risco e o grau de conhecimento que a população terceirense possui acerca das pragas que assolaram e continuam a assolar a ilha. Pretendeu-se igualmente detectar distintos tipos de racionalização e identificar as lógicas de argumentação que lhes subjazem e justificam, por exemplo, eventuais hierarquizações dos riscos percebidos de diferentes pragas, bem como para desvendar os factores de enquadramento sócio-cultural que, directa ou indirectamente, condicionam aquelas percepções. Para tal foi realizado um inquérito a 346 terceirenses, onde metade dos inquiridos residia em espaços citadinos e a outra metade em espaços rurais.
Verificou-se que a população terceirense possui a noção do conceito de praga, reconhece que a acção do homem contribui fortemente para a proliferação desta problemática e identifica alguns dos impactos que lhe estão subjacentes. Porém, não estão suficientemente informados acerca das pragas que assolam ou assolaram a ilha ao longo dos tempos. Ainda que sejam as mulheres a atribuir maiores níveis de prejuízos inerentes a esta temática, os resultados demonstram que na maioria das questões colocadas afigura-se uma homogeneização quanto a alguns factores de enquadramento sócio-cultural, ou seja, não se encontram diferenças significativas quanto à idade, grau de escolaridade, profissão ou residência.
Neste trabalho são sugeridas algumas pistas no que concerne à comunicação de risco que poderão contribuir para uma melhor gestão desta problemática.

Monday, December 17, 2007

Aprender com a História: modos de interacção com a natureza na ilha Terceira do povoamento ao século XX

Foi apresentada e defendida, no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a tese de Mestrado em Educação Ambiental de Lúcia Maria Ávila da Silveira, com o título "Aprender com a História: modos de interacção com a natureza na ilha Terceira do povoamento ao século XX". A tese foi orientada pelo Professor José Manuel Damião Rodrigues e pela Professora Ana Margarida Moura Arroz, ambos da Universidade dos Açores.
O júri foi constituído pelo Doutor José Manuel Damião Soares Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor) tendo sido vogais o Doutor António Xavier de Barros e Cunha Pereira Coutinho, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Margarida Moura de Oliveira Arroz, professora auxiliar da Universidade dos Açores e a Doutora Rute Isabel Rodrigues Dias Gregório, professora auxiliar da Universidade dos Açores.
A flora natural da ilha Terceira, procedente da vegetação ancestral africana e das antigas comunidades do sul da Europa e da América do período Terciário, configura-se como uma autêntica relíquia de um passado remoto e constitui um património de grande valor pelo seu carácter paleoendémico.
Foi a este lugar nunca antes pisado pelo homem que chegaram os portugueses no século XV, mais precisamente em 1427. O povoamento terá tido início a partir da segunda metade desse século por iniciativa de Jácome de Bruges, embora a tradição refira o estabelecimento anterior de Fernão Dulmo na zona das Quatro Ribeiras.

A fixação dos povoadores decorreu da conjugação de diversos factores, tais como abundância de água, o acesso ao mar, o relevo e a fertilidade dos solos, condições determinantes para o desenvolvimento da agricultura e as comunicações com o exterior. Contudo, e apesar das Quatro Ribeiras e São Sebastião se terem constituído os dois centros iniciais de colonização, não se converteram em núcleos dinamizadores da ocupação humana, posição assumida primeiro pela Praia e, posteriormente, por Angra, que, apesar do desenvolvimento mais tardio, cresceu depois a um ritmo mais acelerado e se afirmou como o pólo urbano mais importante da ilha, tendo sido elevada à categoria de cidade em 1534 (21 de Agosto).

As povoações e as explorações agrícolas expandiram-se ao longo do litoral, uma tendência bem vincada já no início do século XVI, formando uma cintura à volta da ilha, que só gradualmente foi avançando para o interior. As actividades humanas começaram cedo a reflectir-se no património natural. Antes mesmo da fixação do primeiro contingente de povoadores, foi lançado gado na ilha. Depois da chegada dos primeiros povoadores, e após um período inicial de grande produtividade verificou-se o empobrecimento do solo, extinção de espécies, difusão de pragas, perda de biodiversidade, etc., uma situação que os colonos e as próprias autoridades procuraram reverter, quer através dos recursos conhecidos à época, quer por meio da publicação de medidas legais.
Com o passar do tempo, acentuou-se o desgaste ambiental, sobretudo no final do século XX, quando o progresso económico e tecnológico permitiu ao homem conquistar as zonas mais inacessíveis do interior da ilha e transformar em pastagem todos os espaços disponíveis, deixando escassos refúgios à vegetação endémica e destruindo ecossistemas preciosos para a preservação da qualidade de vida dos residentes.
A para da pressão antrópica sobre a natureza, coexistiu outra faceta desta relação – os fenómenos naturais sobre as vivências e práticas humanas -, entendidos, quase até aos nossos dias, como castigos de Deus aos homens e cujos efeitos, frequentemente devastadores, deram origem a práticas sociais e culturais de carácter religiosos, que moldaram as vivências quotidianas do povo terceirense ao longo do tempo. Todavia, desastres mais recentes mostram uma maturação social e política face a estes problemas, reflectida na compreensão da responsabilidade humana na prevenção e minimização dos danos resultantes de uma catástrofe natural e materializada na implementação de medidas de protecção que envolvem diversas vertentes, desde a construção civil e respectivas normas à educação cívica.
No entanto, urge que uma consciência semelhante se desenvolva em relação aos problemas ambientais e ao património natural, um processo que pode exigir que os terceirenses se "reaproximem" do seu meio, reaprendendo a preocupar-se com os efeitos das suas acções e com as necessidades futuras e desenvolvendo uma atitude activa de protecção da natureza.

Friday, December 14, 2007

Etnobotânica da Ilha Terceira: Recordar o Passado para Sustentar o Futuro

Realizaram-se no dia 13 de Dezembro de 2007, no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, as provas de Mestrado em Educação Ambiental de Cristina de Fátima Parreira de Sousa Mendonça, orientado pelo Professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Félix Rodrigues e pela Professora Maria de los Angelos Mendiola Ubillos da Universidad Politécnica de Madrid, com o título "Etnobotânica da Ilha Terceira: Recordar o Passado para Sustentar o Futuro.
O Júri foi presidido pela Doutora Maria Teresa Ribeiro de Lima, professora auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor) e contou com o Doutor António Xavier de Barros e Cunha Pereira Coutinho, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, o Doutor Pedro Francisco González, professor auxiliar da Universidade dos Açores, a Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores e o Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores, como vogais.

A etnobotânica é a ciência que ligada à botânica e à antropologia estuda as interacções entre os indivíduos e as plantas, em sistemas dinâmicos. Estuda as aplicações e os usos tradicionais dos vegetais pelo ser humano. É uma ciência multidisciplinar que envolve indivíduos de vários extractos sociais, desde o simples camponês aos botânicos, antropólogos, farmacólogos, médicos, engenheiros, etc..
Todo o estudo etnobotânico tem como finalidade contribuir para o conhecimento científico das espécies vegetais, focando a reversão do conhecimento fornecido pelos informantes para o benefício da própria comunidade.
Tendo em conta os múltiplos benefícios advindos do uso das plantas, o objectivo da presente tese intitulada “Etnobotânica da Ilha Terceira: Recordar o Passado para Sustentar o Futuro” consistiu em inferir os conhecimentos dos terceirenses acerca das mesmas, bem como a sua receptividade e práticas quotidianas no que se refere à sua utilização medicinal quer do ponto de vista da profilaxia ou da prevenção de doenças.

Verificou-se, através das entrevistas realizadas na Terceira, que existem pessoas detentoras de conhecimentos ancestrais acerca das propriedades, sobretudo medicinais, de algumas plantas, e usufruem das mesmas, no seu quotidiano. As entrevistas abrangeram indivíduos de ambos os sexos, com idades superiores aos sessenta e cinco anos de idade, pois são os idosos que revelam maiores conhecimentos e práticas de uso das plantas no seu dia-a-dia. Conhecimentos esses, que não figuram em fontes escritas, sendo normalmente transmitidos por via oral, de pais para filhos, muitos deles com séculos de existência.
Neste trabalho foram recolhidas informações acerca de 42 plantas utilizadas na Terceira para fins medicinais, onde alguns usos e aplicações foram registados pela primeira vez nos escassos trabalhos etnobotânicos existentes no país. Dos quatro trabalhos etnobotânicos realizados no país, três deles, onde este se inclui, realizaram-se no Arquipélago dos Açores.
Neste trabalho foram identificados os usos medicinais do agrião, alecrim, arruda, bálsamo da parede, camarão, cidreira, erva de S. Roberto, eucalipto, amor-de-hortelão, louro das ilhas, cedro do mato, erva-cavalinha, saramago, entre muitas outras.

Houve também o cuidado de apresentar as potencialidades de cada uma dessas plantas em termos de potencial económico e do seu contributo para a agricultura biológica, aproveitando as suas propriedades no afastamento de insectos ou na fitoterapia e aromaterapia.