Teses do Campus de Angra do Heroísmo - Universidade dos Açores

Este blog pretende resumir as teses de Mestrado e Doutoramento realizadas no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a que é possível ter acesso e concluídas a partir de Novembro de 2005.

Thursday, May 24, 2007

Gastrulation in the horse conceptus: an immunohistochemical study (Gastrulação em equinos: Um estudo imunohistoquímico)

Foi defendida a tese de Mestrado em Produção Animal do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores de Maria de Magalhães Fraústo Gaivão, com o título: "Gastrulation in the horse conceptus: an immunohistochemical study-(Gastrulação em equinos: Um estudo imunohistoquímico), orientada pelo Professor Tom Stout da Universidade de Utrecht-Holanda e pelo Professor Joaquim Fernando Moreira da Silva do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
O Júri foi constituído, para além dos orientadores, pelos professores:
Doutor Luís Pedro Pinto de Andrade, professor coordenador da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco,
Doutora Luísa Maria Leal Mateus, professora auxiliar da Faculdade de Medicina Veterinária da Univerisdade Técnica de Lisboa, e,
Doutor Fernando Jorge da Rocha Pires, professor auxiliar da Universidade dos Açores.

Este trabalho de investigação teve como objectivo definir as etapas iniciais do desenvolvimento embrionário em equinos, analisando a formação dos folhetos embrionários, por forma a contribuir para o estudo comparativo do desenvolvimento embrionário animal.
A fase inicial do desenvolvimento embrionário, nomeadamente o período associado à gastrulação, é crucial e caracterizada por uma série de importantes eventos que diferem entre as várias espécies animais. A informação acerca deste período do desenvolvimento no cavalo é escassa.

Nos equinos, após elevadas taxas de fertilização, verifica-se uma alta taxa de mortalidade embrionária nas primeiras duas semanas de gestação, o período associado com o início da gastrulação. Esta mortalidade tem sido relacionada, principalmente, com alterações a nível do concepto.
Durante a gastrulação ocorre uma massiva reorganização celular que transforma o blastocisto numa entidade complexa, na qual os folhetos embrionários (ectoderme, mesoderme e endoderme) são estabelecidos e organizados em locais específicos, de forma a permitirem a sua diferenciação em todos os tecidos do embrião e membranas associadas. O mais interno destes folhetos, a endoderme, irá dar origem ao intestino e outros órgãos internos. O mais externo, a ectoderme, à pele, cérebro, sistema nervoso e outros tecidos externos. O intermédio, a mesoderme, irá dar origem aos músculos e aos sistemas esquelético e circulatório.
Neste trabalho, foi feito um estudo detalhado da formação dos folhetos embrionários e diferenciação no concepto de equino na fase da gastrulação, tendo sido utilizados os seguintes métodos: avaliação macroscópica e análise de cortes histológicos por histologia convencional (hematoxilina-eosina) e imunohistoquímica. Observámos que a gastrulação, no equino, se inicia no Dia 12 (Dia 0 = dia da ovulação) e que, 18 dias após a ovulação, o concepto completou uma série de estadios bem definidos, permitindo o estabelecimento do embrião propriamente dito e membranas associadas. Estes estadios incluem a formação do disco embrionário, formação da linha primitiva, involução de células do epiblasto através da linha primitiva (dando origem à mesoderme e endoderme), neurulação, diferenciação da mesoderme, angiogénese e estabelecimento de um sistema circulatório embrionário eficaz, no qual se identificam as aortas e veias vitelinas preenchidas com células sanguíneas embrionárias.


Através dos estudos de imunohistoquímica, verificámos uma expressão generalizada das citoqueratinas em todas as células da ectoderme com uma demarcação acentuada na junção ectoderme-trofoblasto. A ausência de expressão da vimentina nas primeiras células mesenquimatosas móveis identificadas, permitiu-nos concluir que a vimentina, no cavalo, não pode ser associada, como acontece noutras espécies, com a diferenciação da mesoderme a partir do epiblasto e início da gastrulação. De facto, só no dia 14 após a ovulação é que identificámos células mesenquimatosas marcadas com vimentina. Estas encontravam-se lateralmente à linha primitiva e na porção posterior do embrião. Este padrão de marcação da vimentina sugere diferentes “destinos" das células mesenquimatosas primárias. É também possível que, após movimentos morfogenéticos, estas mesmas células respondam à sua nova localização trocando a expressão de filamentos proteicos. A marcação com α1-fetoproteína, na endoderme primitiva, verificou-se a partir do Dia 10 e intensificou-se nos conceptos mais desenvolvidos. Assim, a endoderme primitiva parece ser o local de síntese desta proteína, tendo em conta o forte e constante padrão de marcação.

Todas estas observações, e quando comparadas com o que acontece nas outras espécies domésticas, sugerem que o padrão de marcação das citoqueratinas, vimentina e α1-fetoproteína nos folhetos embrionários não é uma característica comum ao desenvolvimento embrionário das várias espécies e que existem vários aspectos únicos nas fases iniciais do desenvolvimento do embrião de equino.

Tuesday, May 22, 2007

“A Intervenção em Educação Ambiental dos Educadores de Infância do Arquipélago dos Açores: Inovação ou Indiferença?”

Realizou-se no dia 21 de Maio de 2007, a defesa da tese de Mestrado em Educação Ambiental dos Departamentos de Ciências Agrárias e Edudação, de Carina Raquel Macedo Rocha Terroso, orientada pelo Professor Paulo Borges do Departamento de Ciências Agrárias e pelo Professor Pedro Gonzalez do Departamento de Ciências de Educação, ambos do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, com o título: “A Intervenção em Educação Ambiental dos Educadores de Infância do Arquipélago dos Açores: Inovação ou Indiferença?”


O trabalho de investigação pretendeu dar a conhecer as preocupações que os educadores de infância, do arquipélago dos Açores, apresentam face à temática da educação ambiental e que representações têm das suas práticas ambientais nas escolas.
Tentou-se também perceber quais as motivações que os levam ou não a desenvolverem e/ou estimularem a educação ambiental no jardim-de-infância, tais como as experiências pessoais, a preparação que receberam ou mesmo obstáculos que possam surgir. A população inquirida correspondia a 425 educadores para os quais se enviou um questionário e 299 destes responderam ao mesmo. A amostra obtida representa todas as ilhas do arquipélago dos Açores e na sua maioria corresponde ao género feminino.
De um modo geral, os educadores inquiridos disseram suportar e incluir a educação ambiental nas suas aulas de jardim-de-infância, tendo-se verificado que a idade e as experiências pessoais poderão influenciar a ênfase que dão a esta temática.
Também se verificou que surgem obstáculos quando trabalham a educação ambiental, contudo mostraram que tentam de alguma forma ultrapassar os mesmos. Por exemplo, quando referiram que receberam uma formação pobre na área de educação ambiental revelaram que as acções de formação, as leituras pessoais, entre outras podem ajudar a colmatar esta lacuna.
Na maioria dos inquiridos registou-se que acreditam que a educação ambiental deverá estar presente em quase todos os projectos de jardim-de-infância, uma vez que, a mudança para uma relação mais equilibrada com o planeta e com as outras espécies depende de todos, independentemente da sua idade. Logo o jardim-de-infância será um bom ponto de partida para que as crianças percebam e transmitam (mais tarde) que ao conservarmos a natureza estaremos a conservar-nos também.

Contributo para a Gestão e Conservação do Elefante Africano na Reserva do Maputo em Moçambique

A tese de Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza de Dora Neto, com o título "Contributo para a Gestão e Conservação do Elefante Africano na Reserva do Maputo em Moçambique" foi orientada pelo Professor João Pedro Barreiros do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e pelo Professor Pedro Ntumi da Universidade Eduardo Mondlane de Moçambique.
A tese desenvolve modelos que estudam a interacção entre o número de elefantes e o meio ambiente e permitem estimar o padrão de distribuição espacial da espécie, possibilitando uma melhor gestão da espécie e uma maior mitigação dos coflitos entre a vida selvagem e os humanos. Formulam-se e calibram-se modelos de distribuição espacial do elefante africano na reserva do Maputo para o inverno e para o verão.
O primeiro modelo consiste numa regressão logística calibrado pelas presenças estimadas por dados obtidos por satélite e pseudo-ausências simulados aleatóriamente. As variáveis com maior poder preditivo são a proximidade dos humanos, a distância à água e a distância às estradas. A vegetação não tem significado estatístico no modelo utilizado. O modelo logístico revelou uma excelente capacidade de discriminação, indicando onde é possível encontrar elefantes, mas pouca acuidade na previsão do local das populações de elefantes.


O segundo modelo baseou-se em sistemas de células autómatas para simular o movimento das manadas de elefantes tendo em consideração hipóteses sobre a disponibilidade de alimento, tempos de regeneração, localização inicial da manada combinado com regras simples cujo efeito é analizado nas simulações. Os resultados permitem intuir que alguma zonas de baixa probabilidade funcionam como barreiras ao movimento dos elefantes ao mesmo tempo que a redução da disponibilidade de alimento aumenta a mobilidade. Este modelo permite identificar zonas do Parque de Maputo mais vocacionadas para a dispersão de manadas.

Contributo para a gestão das relações entre a cultura da cerejeira e a conservação de Asphodelus bento-rainhae P.Silva na Serra da Gardunha

A tese de mestrado em Gestão e Conservação da Natureza de Isabel Rodrigues, com o título "Contributo para a gestão das relações entre a cultura da cerejeira e a conservação de Asphodelus bento-rainhae P.Silva na Serra da Gardunha" foi orientada pelo Professor Tomaz Dentinho do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
A vertente norte da Serra da Gardunha (concelho do Fundão) distingue-se pelo facto de aí poder ocorrer algum conflito de interesses entre a conservação da Natureza (área com valores naturais importantes e de interesse público), de onde se destaca o endemismo Asphodelus bento-rainhae P. Silva, e o incremento da actividade agrária (área de propriedade privada) relacionada com a cultura da cerejeira (Prunus avium L.) que tem grande interesse socioeconómico para a região.
A carência em informação neste âmbito encaminhou-nos para o presente estudo que pretende conhecer o trade-off entre a produção de cereja (t/ha) e a área ocupada na parcela por Asphodelus bento‑rainhae P. Silva (%).


Numa perspectiva de desenvolvimento sustentável regional, procurou-se garantir uma ocupação que permita manter o equilíbrio entre desenvolvimento das actividades económicas e a conservação dos recursos naturais.
Foi utilizada informação relacionada com as parcelas de cerejeira, nas freguesias onde ocorre a distribuição de Asphodelus bento-rainhae P. Silva, e que recebem apoio na prática do método de produção em protecção integrada na cultura de cerejeira.
O recurso a técnicas de análise multivariada, nomeadamente a análise de clusters e a análise de regressão linear múltipla, possibilitou a identificação das variáveis que influenciam a produção de cereja e a presença de Asphodelus bento-rainhae P. Silva.
A variável de maneio “eliminação do revestimento nos taludes ‑ corte” distinguiu-se do conjunto das variáveis utilizadas. O corte do revestimento nos taludes promove um aumento na área ocupada na parcela por Asphodelus bento-rainhae P. Silva, e uma diminuição na produção de cereja. Pelo contrário, a utilização de outras alternativas para a eliminação do revestimento nos taludes como seja a utilização de herbicida ou o corte associado à aplicação de herbicida, irá promover o aumento da produção de cereja e a diminuição da presença de Asphodelus bento-rainhae P. Silva.

Thursday, May 03, 2007

Balanço energético de vacas leiteiras em pastoreio nos Açores

Realizaram-se no dia 20 de Abril de 2007, no campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores as Provas de Doutoramento no ramo de Ciências Agrárias, especialidade de Engenharia Rural, requeridas pelo Licenciado Luís Filipe Martins Amaro Ramada Souto. As provas foram avaliadas por um júri presidido pelo Vice-Reitor, Prof. Doutor Jorge Manuel Rosa de Medeiros, sendo vogais o Doutor Jorge Ferro da Silva Meneses, professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa; o Doutor James Masson Bruce, investigador aposentado do Scottish Farm Building Investigation Unit; o Doutor Vasco Manuel Fitas da Cruz, professor associado da Universidade de Évora; o Doutor Eduardo Manuel Vieira de Brito de Azevedo, professor auxiliar da Universidade dos Açores; o Doutor Oldemiro Aguiar do Rego, professor auxiliar da Universidade dos Açores; e o Doutor José Carlos Goulart Fontes, professor auxiliar da Universidade dos Açores. As provas constaram da discussão pública, com crítica e defesa, de uma dissertação intitulada "Balanço Energético de Vacas Leiteiras em Pastoreio nos Açores".
A bovinicultura leiteira nos Açores evoluiu, até ao presente, sem a necessidade do recurso à estabulação dos animais, apostando fundamentalmente na melhoria genética e da alimentação. Deste modo, surgiu o fenómeno da “Holsteinização” dos efectivos, com a importação de sémen de touros Holstein de alto mérito genético, dando origem a vacas mais pesadas e produtivas, mas também mais exigentes do ponto de vista alimentar e de maneio, nem sempre adaptadas às condições difíceis de pastoreio e às frequentes deslocações para a ordenha, por vezes tendo que percorrer distâncias significativas.
O clima pode influenciar o balanço da energia dos animais, particularmente nos sistemas de exploração ao ar livre. Em condições de tempo frio, quando as perdas de calor corporal excedem o calor produzido em neutralidade térmica, o organismo desencadeia um conjunto de mecanismos fisiológicos homeostáticos de forma a garantir um acréscimo da produção de calor, com o objectivo de manter a homeotermia. Contudo, estes processos apresentam custos energéticos, resultando no desvio da energia dos mecanismos produtivos para a manutenção da temperatura corporal, podendo deste modo reflectir-se negativamente na produção de leite e no ganho de peso.
Deste modo, era fundamental perceber melhor a influência da componente climática dos Açores no balanço energético de vacas leiteiras em pastoreio, nomeadamente durante a estação fria.
As grandes questões que se pretendiam responder com a elaboração deste trabalho de investigação foram:

a) Manter os bovinos leiteiros no exterior durante a estação fria será, do ponto de vista do balanço térmico animal, uma prática cultural adequada nos Açores?

b) O efeito do clima na homeotermia terá impactos directos negativos sobre a produção de leite?

c) Que importância têm as sebes vivas no balanço térmico e produtivo de bovinos leiteiros, durante a estação fria?

d) Que influência têm os factores anteriormente referidos no balanço energético de bovinos nas condições de produção das explorações leiteiras nos Açores?
O trabalho experimental decorreu na Ilha Terceira, nos terrenos da Granja da Universidade dos Açores. Usaram-se modelos térmicos físicos, como simplificações de um animal real, simulando as componentes principais da transferência de calor para o ambiente e fornecendo uma medição integrada das perdas de calor sensível. Aquelas observações validaram o modelo matemático que se usou, medições de variáveis climáticas da temperatura do ar, da velocidade do vento, da precipitação e da radiação líquida.
Foi desenvolvido um modelo matemático determinístico e um programa computacional, que se denominou modelo TERCOW, do sistema de energia de vacas em lactação e/ou gestação, modelado para as condições climáticas açorianas. Os resultados deste modelo oferecem as estimativas semanais do balanço de energia, nomeadamente das componentes do peso vivo: variação do peso vivo materno (kg d-1), peso materno (kg), peso do feto (kg), peso do vitelo (kg), peso total materno (kg); componentes de produção: produção de leite (MJ d-1), produção potencial de leite (MJ d-1); e componentes da produção de calor metabólico: produção de calor em condições de neutralidade térmica (W m-2).
O trabalho de investigação permitiu concluir que:
Na estação fria a radiação solar directa diminuiu as perdas de calor, contudo a interacção com outros parâmetros climáticos (temperatura do ar, vento e chuva) tornou despercebida essa influência benéfica.
Em noites de céu limpo, as perdas de calor foram aumentadas. Quando no período nocturno se verificou chuva e vento, as perdas aumentaram em 20 pontos percentuais quando comparadas com noites de céu limpo e vento fraco.
Evidenciou-se o efeito negativo da projecção da sombra pela sebe, duplicando os desvios de calor sensível entre os dois locais. Aquelas diferenças foram progressivamente sendo menos significativas com o aumento da velocidade do vento.
Em noites de céu limpo e sem vento, o local abrigado por sebes vivas foi mais favorável para a conservação do calor corporal.
O modelo TERCOW mostrou que vacas de menor peso satisfazem as necessidades de manutenção e conservação com mais erva e menos alimentos suplementares.
Em partos de Outono, a formulação de alimentos com erva, silagem de erva e cevada revela-se economicamente mais favorável que a formulação mais vulgarizada de erva, silagem milho e concentrado.
As simulações realizadas mostram que é mais eficiente produzir leite com partos na Primavera, nomeadamente com animais de menor peso.
A diferenciação do preço base do kg de leite pago aos produtores (Outono/Inverno e Primavera/Verão) pelas cooperativas, mascara a melhoria nas eficiências entre épocas de partos, não incentivando a esse nível os produtores a melhorar a eficiência das suas explorações.
Na estação fria, a produção de calor em neutralidade térmica excede as perdas de calor devido ao clima, prevalecendo em geral a necessidade dos animais dissiparem o calor corporal.
O período seco é aquele em que as perdas de calor devido ao clima mais se aproximam da produção de calor metabólica. Pelo que, nas condições açorianas, esse período será o mais sensível em termos de conforto e bem-estar animal.
Demonstrou-se que, do ponto de vista do balanço térmico, a estação fria do clima dos Açores, em geral, não tem efeitos negativos em bovinos leiteiros, e que desse ponto de vista os animais permanecem em boas condições de conforto e bem-estar, não afectando a produção de leite.
A utilização de sebes vivas não apresenta vantagens na termoregulação nem no balanço energético, podendo contudo melhorar o conforto animal em condições nocturnas com vento forte, ou em noites sem vento e em condições de forte perda de calor por radiação.