Teses do Campus de Angra do Heroísmo - Universidade dos Açores

Este blog pretende resumir as teses de Mestrado e Doutoramento realizadas no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, a que é possível ter acesso e concluídas a partir de Novembro de 2005.

Saturday, July 14, 2007

Etnobotânica da ilha de São Miguel: Valorização Patrimonial e Potencial Económico

Foi defendida em Ponta Delgada, no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores a tese de Mestrado em Ambiente Saúde e Segurança de Marco Paulo de Viveiros Botelho com o título "Etnobotânica da ilha de São Miguel: Valorização Patrimonial e Potencial Económico" orientada pelo Professor Félix Rodrigues, do Departamento de Ciencias Agrárias da Universidade dos Açores.
O júri foi constituído pela Doutora Regina Maria Pires Toste Tristão da Cunha, professora auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor), pelo Doutor João António das Pedras Saramago, investigador principal do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, pelo Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores, pela Doutora Maria João Bornes Teixeira Pereira, professora auxiliar da Universidade dos Açorese pelo Doutor Luís Filipe Dias e Silva, professor auxiliar da Universidade dos Açores.
Nos tempos que correm, preservar as diferenças, num mundo cada vez mais igual, assume uma enorme importância nas mais diversas áreas, incluindo-se a científica, como a botânica e a antropologia cultural.
Com este trabalho pretendeu-se, por um lado, valorizar o património botânico da ilha de São Miguel no Arquipélago dos Açores e promover a preservação ambiental, em especial, de espécies que correm risco de extinção, e por outro, numa perspectiva de Saúde e Segurança, validar as crenças populares no que diz respeito à medicina popular e ao tratamento fitoterápico, ou seja, apoiar o "saber empírico" com o "saber científico" que confirma a segurança e a utilização popular de algumas plantas indicando também precauções, dosagens e potencial tóxico do seu uso, em cada uma das espécies com aplicações populares registadas. Não se descurou neste trabalho o potencial económico que está subjacente à utilização dada às plantas com fins medicinais, numa indústria tão promissora como a farmaceutica e, progressivamente naturalista, numa altura em que o homem procura aproximar-se cada vez mais da natureza.
Foram identificadas, classificadas e conservadas em herbário, cerca de 107 espécies vegetais com aplicações populares no tratamento de problemas de saúde na lha. A grande maioria dessas plantas pertencem à flora local, ainda que tenham sido introduzidas ou cultivadas. Também se verificou que são empregues na medicina popular Micaelense algumas plantas nativas e duas plantas endémicas: o Vaccinium cylindraceum e a Daboecia azorica. Em termos etnobotânicos, são dadas outras utilizações na ilha de São Miguel às plantas endémicas, mas não na área da medicina popular.


Cerca de metade dos medicamentos que actualmente se encontram no mercado têm uma composição de origem vegetal, e um quarto, contém extractos de plantas ou moléculas provenientes directamente do mundo vegetal. Através dos medicamentos de hemissíntese ou da fitoterapia, as plantas constituem o modo de tratamento mais frequente em todo o mundo.Através dos dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), constacta-se que o uso das plantas medicinais pela população mundial tem aumentado significativamente nos últimos anos, sendo esse uso incentivado pela própria OMS.A cultura popular açoriana é toda ela extremamente rica em saberes e tradições nas mais diversas áreas, entre as quais se incluem a etnobotânica. Este trabalho pretendeu também contribuir para a preservação do património regional que ousa desaparecer à medida que cada um dos anciãos das nossas vilas e freguesias se extingue.Após a inquirição de 90 pessoas, profundamente conhecedoras da medicina popular na ilha de São Miguel, concluiu-se que para a generalidade dos tratamentos propostos com plantas, existe suporte científico que ajudará a validar o saber popular conferido a determinadas plantas, conhecimento esse que parece provir desde os primórdios do povoamento, pelo facto da maioria das plantas utilizadas serem espécies introduzidas e cultivadas na ilha e resultarem da transmissão de conhecimentos orais dos seus antepassados.Conclui-se também que muitas das utilizações medicinais dadas às plantas na ilha de São Miguel, que se distribuem também por outras regiões do planeta, são as mesmas que as populações que aí residem lhes dão. No entanto, na ilha, registam-se diferentes usos de algumas plantas de distribuição geográfica ampla, indiciando a construção de um "conhecimento empírico" específico. Por exemplo, é utlizada na ilha a anona como diurético, não se conhecendo aplicações noutros locais para esse fim, no entanto haverá que validar cientificamente essa aplicação. A planta Daboecia azorica, endémica dos Açores, é utilizada no tratamento da hipertensão e carece também de uma investigação mais aprofundada neste domínio.


Com aplicações próprias que parecem ser específicas da ilha encontra-se o agrião da horta, para o tratamento da dor de dentes, o pero azedo para problemas cardíacos, o manjerico para a tosse convulsa, o incenso para o reumatismo, a uva da serra (planta endémica) para a dor de barriga, a hortelã-pimenta para a azia, a borragem para branqueamento dos dentes, o inhame para tratamento de quistos, o louro para tratamento da gripe e peste, a anona para os diabetes, a faia da terra para a diarreia, a conteira para as frieiras, etc.

Algumas das plantas apresentadas possuem um certo grau de toxicidade, daí que o seu uso tem que ser devidamente acautelado com um manuseamento apropriado e doses correctas. Entre as plantas mais tóxicas utilizadas na medicina popular micaelense destacam-se a arruda, o sabugueiro, a salva, o buxeiro, o estramónio, a erva-cidreira, a lúcia-lima, a losna, a celidónia e o marroio. No manuseamento dessas plantas deve ser colocado especial cuidado.

Monday, July 09, 2007

Etnobotânica de São Jorge: Valores, Recursos e Sustentabilidade

Realizou-se no dia 7 de Julho de 2007, a defesa da tese de Mestrado em Educação Ambiental de Ana Maria Pires Estrela Vilela, com o título "Etnobotânica de São Jorge: Valores, Recursos e Sustentabilidade", orientada pela Professora Maria Angeles Mendiola Ubillos da Universidad Politécnica de Madrid e pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
O júri da tese foi constituído pela Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor), pelo Doutor António Xavier de Barros e Cunha Pereira Coutinho, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pela Doutora Maria João Bornes Teixeira Pereira, professora auxiliar da Universidade dos Açores, pelo Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores e pela Doutora Margarida da Silva Damião Serpa, professora auxiliar da Universidade dos Açores.
Com esta tese pretendeu-se recolher o conhecimento empírico da utilização de plantas na ilha de São Jorge, junto das pessoas mais idosas, com vista à sua valorização na área da Educação Ambiental; como recurso educativo e contributo para a sustentabilidade sócio-económica da ilha.
Identificaram-se usos e costumes, conhecimentos e crenças específicas dos jorgenses acerca da flora da sua ilha. Pretendeu-se sempre perspectivar a forma como a informação recolhida poderia promover a conservação de espécies vegetais, especialmente as referentes a plantas raras ou em vias de extinção.
De entre as espécies vegetais, expontâneas ou cultivadas, merecem especial referência a cultura do Café, que nos Açores só é realizada em alguns locais dessa ilha, e o cedro do mato, que permitiu o aparecimento de uma "escola de escultores de arte sacra", única no mundo. A romania, espécie endémica dos Açores, também tem nessa ilha aplicações específicas, como a produção de doce e o fabrico de água-ardente, mas actualmente em desuso.

Também merece especial referência o desaparecimento em São Jorge do linho e da planta tintureira Isatis tinctoria, que durante muito tempo constituíram recursos económicos importantes da ilha.Identificaram-se plantas com interesse alimentar e farmacológico como o agrião, o perrexil, a bananeira, a batata-doce, o castanheiro, o feto, a videira, o jarro, o milho, a silva, o café, o araçazeiro amarelo, o araçazeiro roxo, a roca de velha, a losna, a faia da terra, a salva, o linho, o inhame, o sabugueiro e a uva-da-serra. Foram também identificadas plantasque são utilizadas como matéria prima, para o fabrico de utensílios específicos, no artesanato, e na tinturaria, como a corriola, a faia da índia, o pau branco, o bracel, o dragoeiro, o inhame, o pastel ou a urzela.Por fim foram registadas crenças ligadas a algumas plantas como o sabugueiro, a faia da terra, a salva e a losna.
Pela informação recolhida fica claro que o não uso de uma planta, especialmente agrícola, pode levar à sua extinção, como foi o caso do linho e do pastel na ilha de São Jorge. Outrora, o líquene Rocella tinctoria era colhido na ilha e tinha interesse comercial. A utilização desta espécie nativa desapareceu, e apesar de ser abundante, ninguém na ilha a sabe identificar. Se em São Jorge existem plantas com interesse agrícola ou farmacológico que dificilmente entrarão em extinção, outras poderão vir a desaparecer se não forem valorizadas económicamente.
É pertinente valorizar algumas plantas de São Jorge numa perspectiva etnográfica, gastronómica e turística. Parecem ser especialmente valorizaveis nessa perspectiva a bananeira (cuja seiva tem algumas propriedades medicinais), o café (pela curiosidade e raridade que representa o seu cultivo em climas subtropicais), o inhame (com interesse farmacológico e alimentar), a videira (pelo gosto característico dos seus frutos), a uva-da-serra (pela qualidade e raridade dos seus frutos e produtos) e o linho e pastel (por estarem associados a uma actividade económica e social da ilha nos séculos passados).

Monday, July 02, 2007

Ambiente e recursos: Usos e desperdícios de água e energia em agregados domésticos da Ilha Terceira

Realizou-se no dia 2 de Julho de 2007, a defesa da tese de Mestrado em Educação Ambiental de Tânia Marisa Cordeiro Ferreira, como o tema "Ambiente e Recursos: Usos e desperdícios de água e energia em agregados domésticos da Ilha Terceira", orientada pelas Professoras Ana Cristina Palos do Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores e Emiliana Diniz Soares da Silva do Departamento de Ciências Agrárias da mesma Universidade.
O júri foi constituído pela Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor) , pelo Doutor Francisco Manuel Freire Cardoso Ferreira, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Doutor António Félix Flores Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores, Doutora Emiliana Leonilde Diniz Gil Soares da Silva, professora auxiliar da Universidade dos Açores e Doutora Ana Cristina Pires Palos, professora auxiliar da Universidade dos Açores.

Nas sociedades actuais, o crescimento acelerado do consumo conduz à pressão sobre os recursos naturais, situação que tem vindo a colocar, progressivamente, o mundo em crise.
O presente estudo pretendeu focar, a contribuição dos agregados familiares nas situações de risco supra mencionadas, ou seja, a problemática da escassez de água e as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, que conduzem às alterações climáticas.

Nas práticas domésticas quotidianas os indivíduos promovem o desperdício de água quando não a utilizam eficientemente, e emitem CO2 para a atmosfera sempre que utilizam electricidade proveniente de centrais termoeléctricas, como é o caso da Terceira, gás, veículos motorizados e produzem resíduos sólidos.

Esta investigação resultou da inquirição de 165 agregados familiares dos Concelhos de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória, na ilha Terceira, que foram estratificados quanto à localidade de residência em Centro de Angra do Heroísmo, Centro da Praia da Vitória, Periferia de Angra do Heroísmo e Periferia da Praia da Vitória. Foi necessário estimar os consumos de referência para avaliar os desperdícios de água e electricidade por agregado familiar.
De modo geral, os agregados do Centro de Angra do Heroísmo têm a média de consumo de electricidade mais baixa da ilha, são os segundos maiores consumidores de água, e os que emitem, em média, menores quantidades de CO2 para a atmosfera.

Os agregados do Centro da Praia da Vitória são os que apresentam menor consumo médio de água, são os segundos maiores consumidores de electricidade e emissores de dióxido de carbono da ilha.

É na periferia da Angra do Heroísmo, freguesias rurais do concelho, que se reunemos agregados com maior consumo de água e electricidade, no entanto são os segundos menores emissores de CO2 da ilha.
Na periferia da Praia da Vitória encontram-se os agregados com menores consumos de electricidade e água, mas são aqueles que mais dióxido de carbono emitem.
Os agregados familiares do Concelho de Angra do Heroísmo apresentam maiores desperdícios de água do que o Concelho da Praia da Vitória e as periferias dos dois concelhos apresentam a menor eficiência de consumo de electricidade.
Este trabalho permite equacionar um plano de intervenção ambiental de modo a racionalizar o uso destes dois recursos.

Em 2006, a média mensal do consumo de água na ilha por agregado familiar (moda de três elementos por agregado) foi de 15,87 metros cúbicos, com um consumo mensal de electricidade de 295,69 kwh, um consumo de gás butano de 36,68 kg/mês e uma média de emissão de 543,9 kg de dióxido de carbono por mês.