Aprender com a História: modos de interacção com a natureza na ilha Terceira do povoamento ao século XX
O júri foi constituído pelo Doutor José Manuel Damião Soares Rodrigues, professor auxiliar da Universidade dos Açores (por designação do Magnífico Reitor) tendo sido vogais o Doutor António Xavier de Barros e Cunha Pereira Coutinho, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Doutora Rosalina Maria de Almeida Gabriel, professora auxiliar da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Margarida Moura de Oliveira Arroz, professora auxiliar da Universidade dos Açores e a Doutora Rute Isabel Rodrigues Dias Gregório, professora auxiliar da Universidade dos Açores.
A flora natural da ilha Terceira, procedente da vegetação ancestral africana e das antigas comunidades do sul da Europa e da América do período Terciário, configura-se como uma autêntica relíquia de um passado remoto e constitui um património de grande valor pelo seu carácter paleoendémico.
Foi a este lugar nunca antes pisado pelo homem que chegaram os portugueses no século XV, mais precisamente em 1427. O povoamento terá tido início a partir da segunda metade desse século por iniciativa de Jácome de Bruges, embora a tradição refira o estabelecimento anterior de Fernão Dulmo na zona das Quatro Ribeiras.
A fixação dos povoadores decorreu da conjugação de diversos factores, tais como abundância de água, o acesso ao mar, o relevo e a fertilidade dos solos, condições determinantes para o desenvolvimento da agricultura e as comunicações com o exterior. Contudo, e apesar das Quatro Ribeiras e São Sebastião se terem constituído os dois centros iniciais de colonização, não se converteram em núcleos dinamizadores da ocupação humana, posição assumida primeiro pela Praia e, posteriormente, por Angra, que, apesar do desenvolvimento mais tardio, cresceu depois a um ritmo mais acelerado e se afirmou como o pólo urbano mais importante da ilha, tendo sido elevada à categoria de cidade em 1534 (21 de Agosto).
As povoações e as explorações agrícolas expandiram-se ao longo do litoral, uma tendência bem vincada já no início do século XVI, formando uma cintura à volta da ilha, que só gradualmente foi avançando para o interior. As actividades humanas começaram cedo a reflectir-se no património natural. Antes mesmo da fixação do primeiro contingente de povoadores, foi lançado gado na ilha. Depois da chegada dos primeiros povoadores, e após um período inicial de grande produtividade verificou-se o empobrecimento do solo, extinção de espécies, difusão de pragas, perda de biodiversidade, etc., uma situação que os colonos e as próprias autoridades procuraram reverter, quer através dos recursos conhecidos à época, quer por meio da publicação de medidas legais.
Com o passar do tempo, acentuou-se o desgaste ambiental, sobretudo no final do século XX, quando o progresso económico e tecnológico permitiu ao homem conquistar as zonas mais inacessíveis do interior da ilha e transformar em pastagem todos os espaços disponíveis, deixando escassos refúgios à vegetação endémica e destruindo ecossistemas preciosos para a preservação da qualidade de vida dos residentes.
A para da pressão antrópica sobre a natureza, coexistiu outra faceta desta relação – os fenómenos naturais sobre as vivências e práticas humanas -, entendidos, quase até aos nossos dias, como castigos de Deus aos homens e cujos efeitos, frequentemente devastadores, deram origem a práticas sociais e culturais de carácter religiosos, que moldaram as vivências quotidianas do povo terceirense ao longo do tempo. Todavia, desastres mais recentes mostram uma maturação social e política face a estes problemas, reflectida na compreensão da responsabilidade humana na prevenção e minimização dos danos resultantes de uma catástrofe natural e materializada na implementação de medidas de protecção que envolvem diversas vertentes, desde a construção civil e respectivas normas à educação cívica.
No entanto, urge que uma consciência semelhante se desenvolva em relação aos problemas ambientais e ao património natural, um processo que pode exigir que os terceirenses se "reaproximem" do seu meio, reaprendendo a preocupar-se com os efeitos das suas acções e com as necessidades futuras e desenvolvendo uma atitude activa de protecção da natureza.
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